segunda-feira, 5 de abril de 2010

Coco Chanel ou Gabrielle

Quem acompanha cinema de perto pode ficar com um pé atrás (ou os dois, dependendo da experiência) para ver ''Coco Antes de Chanel'' (2009), mesmo que não leve tão a sério a chamada política dos autores (elaborada por François Truffaut, entre outros, e responsável, em linhas gerais, pelo reconhecimento do diretor como maior força criativa de um filme).




Terá seus motivos, pois Anne Fontaine, diretora dos fracos ''A Garota de Mônaco'' (2008), ''Nathalie X'' (2003) e do apenas razoável ''Lavagem a Seco'' (1997), nunca demonstrou ter olhar marcante ou ser uma boa e sensível observadora. Pelo contrário: faz o que o tema pede, sem questionamentos, como um artesão hollywoodiano, mas sem a desenvoltura na dramaturgia que um profissional médio americano apresentaria.



Com ''Coco Antes de Chanel'', envereda pelo perigoso drama biográfico, pegando os anos anteriores ao estrelato da estilista Coco Chanel, aliás, Gabrielle, como era conhecida antes de ser apelidada por um poderoso comerciante de tecidos da Belle Époque francesa.



Se é certo que a diretora consegue um notável progresso em relação a seus filmes anteriores, ainda assim notamos um cuidado excessivo com o tom, calculado demais para não ofender o espectador com a libertinagem dos homens daquela época, e no desenrolar da aceitação de Coco de seu papel de concubina.



Audrey Tautou, como a personagem do título, finalmente se revela uma boa atriz. Em ''Coco Antes de Chanel'', ela está muito distante da estética ''caixinha de música'' de ''O Fabuloso Destino de Amélie Poulain''. Na verdade, esse papel pode ser considerado o melhor passo de sua carreira, já que nem Resnais (em ''Beijo na Boca, Não''), muito menos Ron Howard (que a dirigiu em ''O Código DaVinci''), para citar o melhor filme de sua carreira e o maior sucesso comercial, em Hollywood, tinham conseguido apagar esse fantasma poulainiano que tanto a estigmatizava, e que agora parece mais distante, finalmente.



Pena que esta cinebiografia de Coco Chanel seja tão sem inspiração, tão contida em suas cenas lapidadas em excesso. Essa grande limitação impede que momentos fortes como o da escadaria no final reverberem muito em nossa memória. Como o restante não ajuda, essa sequência de tom onírico (ouso dizer, felliniano) não nos impregna, não arrebata como deveria, caso fosse preparado esse arrebatamento com alguns toques de ousadia estética no decorrer da projeção. Como filmes que não nos impregnam com paixão são os mais comuns no cinema industrial europeu, não temos a menor necessidade de mais um deles.

Fonte UOL

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